quarta-feira, 26 de novembro de 2008

que bom. foi bom. um carro, uma estrada sem rumo para mim. ir sem saber para onde. ser guiada no escuro. foi muito bom. a conversa, as mãos, o toque quase distraído como uma rotina. foi bom o mar, o frio, os risos. ficou no ar o não dito entre o que se disse. usaram-se adjectivos. disseste "estável". ouvi. mas soou estranho. lês-me o olhar. sabes que as palavras têm um peso enorme em mim e a expressão não esconde o efeito que causam. conheces-me o suficiente destes olhares. e eu à procura da melhor forma de chegar ao que queria dizer. eu eu sei encontrar. andei perto. tacteei e quase consegui. risos. olho-te como se fosses uma personagem no ecrã. pareces-me improvável e no entanto estou ali. tu olhas e vês uma presença. guiaste-me de volta num abraço sem que te pedisse nada e quando disse adeus, tu disseste "vem. eu subo, trato da gata e vens comigo".

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

"Desejo é falta"
pergunta dela: você quer ser mal-amada?

domingo, 23 de novembro de 2008

e aos domingos tudo custa mais. pára tudo. espero. espero. não sei porquê. o vazio pesa mais. ouço música pouco dominical e quando a luz do dia se vai e fica aquela luz sem dia nem noite... bem, aí tudo pesa mais. onde estão todos? cada um em seu domingo e eu no meu sem saber como me arrumar nele. silêncios. companhia que podia ser perfeita mas que se releva ausente porque tudo acaba, até a companhia que foi de sempre e que quis trazer hoje para o meu lado para me aquecer o domingo. há náuseas. náuseas de fim náuseas de n entender. estou cansada, muito cansada. espero. espero. não passa. e se gritar? alguém me ouve? teria de ser eu a ouvir e parece que eu recuso dar o socorro que esse grito pede. é impotência, fraqueza. tanta fraqueza 

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

taquicardia. fúria. a minha avó chamava-lhe arrelia. e vou arreliada subindo a rua do carmo aos gritos ao telemóvel, praguejando contra já não sei bem o quê. sei que do outro lado alguém me tentava acalmar e me mandava comer uma sopa. sopa?! foi isso mesmo que disseram. vai comer uma sopa e depois liga-me. sim sim abelha. e lá vou eu pisando duro as pedras da rua do carmo, batendo na placa de uma cega que me rogou uma praga que se ouviu no camões. dia longo esta manhã...
chegou dia 21. tive medo e não fui. também tinha trabalho e tinha muito sono. não fui.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ele dava-me um beijo no rosto. daqueles demorados. e eu sorri colada à almofada. abri os olhos e era um sonho.
ele liga. acolhe e logo recolhe. ninguém aguenta. nem eu. eu falo. ele também. ele conta e reconta. tudo. as coisas que enchem os dias, os entusiasmos, as iras. ele ri. ele orgulha-se para logo diexar de se orgulhar e se recriminar. por essas coisas que enchem e os dias e que são quase e só trabalho. vive disso. para isso. isso enche-o. eu ouço-o porque o estar cheio dele é o meu vazio. ele tem prioridades. eu não sou. sou uma alguém de quem se gosta. até que ponto? não sei. ele não pensa nisso. no gostar. ele não quer pensar nisso e diz que não quer pensar nisso. ele dá. ele é generoso. ele é também egocêntrico e dá o que o egocêntrico é capaz de dar sem saber que é possível dar muito mais. eu não o desculpo. eu não o culpo. eu só lamento que o idealizei seja apenas isso, uma fantasia. vivo nela, mas nela não vive. inventei-a. queero acreditar nesse ele, mas sei hoje que não posso continuar a fazê-lo. só não sei como deixar de... é que cair de uma nuvem dói e eu estou a adiar essa dor maior.
ouço a dor alheia e não posso evitar o espelho. não a meço. maior? menor? dor é dor. e ouço-a atraves de um mediador que sente culpa pela dor do outro. que culpa? pergunto-lhe e ele no silêncio conta uma culpa imensa sem começo à vista ou onde a vista já não alcança um começo. ouço-o. sinto raiva da culpa que ele sente porque a sei e sei que a culpa não entra aqui. como não entra na minha dor, doi. pronto. viver é um risco e a dor faz parte. como o resto. como a alegria. ninguém diz que é culpado da alegria do outro. ó mesquinho pecado judaico-cristão! coisa que atrofia. a mim doi-me. hoje doi tudo. doi até a dor de não poder fazer nada pela culpa que ele sente, mas não sinto culpa por isso. apenas incapacidade. e sinto-me esponja. vou absorvendo a dor que de lá vem, que não mitiga a minha.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

olho o dia. como fui capaz? resolvi tudo o que tinha a resolver. tive ideias que não me pediram. respondi ao que não parecia possível e tremia sem que ninguém notasse. e se corresse tudo mal? e que aquela lágrima que ameaçava cair se soltasse mesmo? e se de repente tudo ficasse visível e descobrissem que se calhar não passo de uma farsa. forte, eu? deixem-me rir, como o cantor se riu, também ele com mais desejo do que com vontade. sou pequena e parece que ninguém dá por isso. quero um afago, quero uma história que me ajude a dormir

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

razão? qual razão. merda, muita merda a comandar esta vida cheia de nós por desatar e que se enleia. a razão tenta encontar-lhe a ponta. encontra. mas logo a esquece. é fraca a razão, embora não me largue a mim que sou mínima, tão racional como uma abóbora mas com o bom-senso de um gestor de sucesso. como conviver estas contradições? procuro isso a que chamam intelegência emocional e só encontro o emocional que me come toda a inteligência. fico aparvalhada num aparvalhamento atordoante. lembro-me de músicas. agora eu era o heói e coisas que tais. quero puxar-me para cima a mim e a essa tal de inteligência. isso culiva-se, dizem-me. com que estrume? o que fica de tanta emoção desperdiçada, de tato que dei, de tanto que esperei e não tive. lembro a amiga dos cabelos brancos de leite. "faça birras". não há força. e a razão mina, mina tudo, mina a emoção que deve sair pura e sai desconfiada. e o que fazer com uma emoção descofiada, uma emoção que se sabe a prazo num prazo ainda mais curto do que qualquer prazo que acaba com tudo. puta de razão. puta de emoção esta a minha que tudo vence, para depois se perder no nada. nada nas mãos
Em situações e depressão largue os comprimidos. Nao largue os amigos

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

vou ali fazer uma birra e já volto
chega!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ele veio. serenou-me por pouco tempo. olhou-me. sorriu. apertou a minha mão. falou com um falar de quem vai seguir em frente e para que eu siga em frente. falou e disse 'nós', um nós que é o nós dele e não o meu 'nós'. são dois 'nós' que entram em confronto e tentam coabitar. às vezes é bom, muitas vezes não chega. não chega para mim, para o 'nós' que eu construí.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

ela tinha umas mãos nodosas e quentes. as minhas pequenas e esguias cabiam lá dentro. ficavam fechadas dentro das dela e aquele calor era suficiente para aquecer o meu corpo lingrinhas e aquele calor era a única coisa que acalmava as minhas angústias de a criança. a minha avó-tira-medos foi-se embora há três anos e na última vez em que a vi, quando me ia embora com um nó que n cabia na minha garganta, ela voltou a agarrar as minhas mãos de adulta entre as dela. ela ia. não tinha medo. eu tinha muito, muito, muito. sabia que aquele calor estava a arrefecer, mas ainda lá estava e ela aqueceu-me ali, no fim, só para me tirar o medo de que ela se fosse embora. que falta me fazes hoje avó-tira-medos e que saudades desse calor que ainda sinto nas minhas mãos
ele adormece no meu colo e agarra-me como se eu fosse acabar. quando acorda, quem acaba, afinal, é ele
lágrima que lava. "faça birras", diz a mulher de cabelos brancos e voz zen. só o tom de voz impede a birra que já saiu em muitos sítios mas se recusa a ser arrancada ali. só à força. a birra, a minha birra, vem com a solidão da vergonha da birra pública. só aí não se contém. desaba, leva-me com ela até à inconsciência de mim. "dê-lhe um horário. estabeleça o seu horário para a birra". ouço incrédula, numa estranha serenedidade que não me atingia há dias. a birra vai e vem. e com a birra a lágrima sai. não sei se lava. limpou qualquer coisa cá dentro. por pouco tempo
doi. não sei de onde vem. dor vazia que ameaça rebentar. dor dependente, dor de dependente. não de uma substância tóxima, mas de um sentimento. será que existem consitórios onde se façam encontros de doridos de uma dor dependente? eu candidato-me. não me consigo libertar. estou cada vez mais agarrada.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A alma espirra? Não. Dizem-me que pinga
o que se procura quando se procura alguém sem parar e mesmo quando se encontra a alma não sosessega. quer isso dizer que não houve encontro? eu procuro e vou procurando sempre a mesma pessoa. ainda guardo a hipótese do sossego desse encontro

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

faz hoje 20 anos. mais de metade da minha vida. tudo mudou naquele dia. e tudo é tudo. conheci a pessoa que mais me marcou e marcará independente de todas as que venha a conhecer. 20 anos. aprendi sobre tudo. do amor. do sofrimento. da tenacidade. da paz. do dar sem esperar receber. de pôr a chave à porta e saber que ele estaria lá. sempre. incondicional. aprendi da quase morte, do quase fim. aprendi da amizade e de como ela e o amor podem ser uma só coisa. aprendi da paixão e da possibilidade de nos apaixonarmos várias vezes pela mesma pessoa. aprendi também que tudo pode ter um fim. e este fim não o entendi. não o entendo. 20 anos e uma ternura sem limites, sem ponta de amargura, com tanta saudade. 20 anos e acabou. hoje não haverá flores, não haverá beijos. há esta memória. 20 anos e uma ternura sem limites, sem ponta de amargura, com tanta saudade. 20 anos e acabou. hoje não haverá flores, não haverá beijos. há esta memória que nada apaga e há uma lágrima no olho. 20 anos cheios. mais do dobro da minha vida e tudo está no mesmo lugar menos eu.
Saí sem fechar a porta e não me despedi de ninguém. Não estava para despedidas. saí sem a sensação de não voltar. Foram três anos e meio e estranho esta falta de sentimentos ao sair. Nada. Procurei sentir, mas nada. vou. Levo alguns amigos. O resto fica naquelas paredes amarelas que me assustaram no dia em que ali entrei pela primeira vez. Hoje não estou para grandes escritas. Vou para casa. A gata espera-me. Só ela
um começo. nada a dizer. por agora. sobram todas as palavras